sexta-feira, 29 de abril de 2011

Muchacho


Este foi um dos livros que mais me surpreendeu pela positiva, aquando da sua compra. Emmanuel Lepage, artista francês, era-me desconhecido ao nível artístico e embora já tivesse ouvido falar dele, demorei um pouco a obter este “Muchacho”. Para além desta obra publicada pela ASA, encontra-se também em português o livro “A Terra sem Mal” editado pela Vitamina BD.
Na realidade o que me levou a obter esta obra foi a exposição de Lepage no 20º Amadora BD! Fiquei estupefacto com a beleza dos originais presentes na exposição dedicada a este magnífico autor! Rumei imediatamente para a loja da ASA onde comprei os dois volumes de “Muchacho” e lamentei que a Vitamina BD não estivesse presente, pois também queria comprar o “A Terra sem Mal”. Como os livros da Vitamina BD não se encontram em muitos lados, sobretudo estes títulos mais antigos, ainda não possuo este… mas isso irá ser resolvido brevemente, provavelmente na Feira do Livro de Lisboa, se a Vitamina BD estiver presente pois ainda não verifiquei os stands deste evento lisboeta!
Lepage apostou nesta obra a solo, é o autor dos textos e parte artística, e pelos vistos não precisa de grandes ajudas para fazer estórias interessantes, e talvez por isso o entrosamento entre a estória e a arte esteja tão boa!
Lepage para esta obra, assim como para “A Terra sem Mal” fez o trabalho de casa indo ao terreno para melhor enquadrar as magníficas paisagens destes dos lugares, sobretudo aquelas que são passadas na selva. Assim temos um bom retrato do espaço onde decorre a acção!
A acção desta obra passa-se na Nicarágua entre 1976 (em plena ditadura de Somoza) e 1979 (queda de Somoza). Ditadura brutal que manietou e torturou todo um povo, abrindo espaço para as sementes da luta revolucionária do movimento Sandinista. É neste contexto que o crescimento (tanto político como sexual) de Gabriel de la Serna toma lugar.
O jovem seminarista Gabriel é incumbido de fazer um fresco numa igreja do interior, tornando-se grande amigo do pároco desta pequena terra do interior, Rubén. Este padre mostra e ensina a Gabriel como captar numa folha de papel a alma do povo desta aldeia. Demonstra a Gabriel que os desenhos bonitos e estereotipados que este fazia enquanto seminarista na capital, e que faziam as delícias do clero, eram vazios… faltava-lhe captar a alma e a essência das pessoas e dos eventos que ele ilustrava. Assim Gabriel começa do zero e aprende a amar aquela gente simples. Os problemas começam a acontecer quando Gabriel protege e esconde armas que serviriam à guerrilha Sandinista… a partir daqui tudo se precipita!
Mortes cruéis, perseguições fugas e por fim sozinho na selva! Aqui vai cair nas mãos de um grupo de guerrilheiros onde se apaixona por um estrangeiro… sim é uma história homossexual, embora este aspecto não seja mostrado como uma ruptura, ou com aproveitamento para chocar o vulgar leitor heterossexual. É apenas um dos aspectos deste livro e da personalidade em crescimento de Gabriel! Os valores da camaradagem, solidariedade e liberdade sobrepõem-se a tudo.
O final é agridoce, e talvez um pouco inesperado, mas muito bem conseguido!
Em suma… mais um excelente livro de BD com páginas vibrantes de vida e cor!
Aconselho este leitura, mesmo! Presumo que Lepage seja heterossexual, mas, e sobretudo no segundo volume, a sua arte realça a sensualidade do corpo masculino de maneira bastante hábil, não caindo em estereótipos fáceis de representação homossexual.
Muito bom!

Boas leituras!

Hardcover
Criado por Emmanuel Lepage
Editado em 2006 pela ASA
Nota : 9 em 10

12 comentários:

  1. Outra compra. Podes deixar de colocar novidades por 30 dias sff. heheheheh

    A minha mais que tudo não está a ficar contente com o aumento exponencial da palete de livros na mesa de cabeceira.

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  2. Paulo Brito
    Ora... não é nenhuma novidade!
    O Muchacho é de 2006...
    :P

    Tens de a convencer a comprar uma estante no Ikea... as Billy são baratas e dão para +/- 400 livros de BD! Ficas com o problema da mesa de cabeceira resolvido!
    :D

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  3. é novidade para mim que só comecei a entrar no mercado da bd portuguesa desde a teoria do grão de areia.

    o problema não é para já onde os colocar. o problema é que nunca coloco nas estanques o que ando a ler (muito ao mesmo) ou o que vou ler. por isso imagina o que é o meu lado do quarto.

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  4. Paulo Brito
    Então terás algumas novidades já esgotadas...
    :P

    Eu faço de outra maneira... não os ponho na mesa de cabeceira, tenho uma folha Excell com todos os meus livros e aqueles que ainda não li estão marcados. Assim sei sempre a quantas ando nas minhas leituras!
    :D

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  5. Não concordo nada contigo quanto ao final "agri-doce". Achei o fim deprimente. Não há nada pior que contrariar a nossa própria natureza.
    Parece-me que o autor quis agradar a gregos, e a troianos, tarefa sempre difícil de conseguir.
    Não sou fã de finais moralmente aceitáveis, que me parece ter sido a solução do autor.
    No todo, gostei bastante. Gostei muito do desenho, e da estória com história. Tu sabes.
    Enxofre

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  6. Diabba
    Também já sabes a minha opinião!
    Agri-doce porque o rapaz não conseguiu aquilo que seria expectável, mas a revolução que pôs fim ao regime de Somoza acabou por triunfar!
    ;)

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  7. Optima história que ja li a uns anitos e que podia ter sido (re)aproveitada para a coleção Asa/Publico.

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  8. Optimus
    Nesta última seria muito difícil, porque como poderás reparar os livros desta colecção são praticamente todos inéditos!
    E é uma boa estória sim!
    ;)

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  9. Olá Bongop! Se quando compraste os Muchachos, tivesses dado mais uns passos e a seguir ao Stand da Asa, tivesses entrado na Livraria do festival, gerida pela Dr. Kartoon, tinhas encontrado com facilidade o "Terra Sem Mal", pois embora a Vitamina BD não estivesse presente na Amadora, nós sempre fizemos questão de ter os seus livros à venda... Abraço

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  10. JML
    Sabes que quando um tipo anda para ali, parece uma barata tonta! Nem me lembrei que o poderiam ter na Dr Kartoon!
    :)

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  11. Devido à tua análise/opinião, comprei estes dois livros aquando da FdL de lisboa. E muito sinseramente, em boa hora o fiz. Gostei imenso do desenho, nomeadamente de toda ambiancia da selva e dos homens em luta com ela. Da ferocidade retratada dos defensores de Somoza (ou de outra qualquer ditadura, na realidade), da humanização dos habitantes da aldeia, conseguida com pouco recurso à escrita, baseando-se em desenho.

    Tal como a Diabba, não achei muita piada ao fim. Creio realmente que ele tentou fugir à tal questão homossexual (bem expressa ao longo do livro), de forma a que o fim não ficasse uma defesa dessa sexualidade. Possivelmente, para não afugentar os seus compradores mainstream.

    Mas pronto. Essa é uma mera opinião minha.

    Na globalidade, está uma obra bem conseguida. E em meros dois livros sem se explanar numa saga infindável...

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  12. pco69
    Uma boa obra em dois livros! Não é para todos!
    ;)

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