terça-feira, 4 de setembro de 2012

Os Piratas do Deserto


Santos Costa trouxe-me um cheiro a nostalgia…
Salgari!
Estes livros povoaram o meu imaginário adolescente com descrições exuberantes dos locais díspares onde a acção se desenrolava. Podia ser na Sibéria, na floresta Amazónica, no oceano pacífico, no Sahara, África profunda ou Birmânia. As aventuras que este autor escreveu correram todo o globo!
Tanto descrevia os índios norte-americanos, como os sul-americanos, povos siberianos, ou africanos.
A obra de Salgari aqui falada foi editada pela editora Romano Torres, salvo erro nos números 21 e 22, que tinham os títulos “A Formosa Judia” e “Os Bandidos do Deserto”. Não tenho bem a certeza dos nomes… mas se não era isto estou lá perto com certeza!
:D

Santos Costa recriou de forma livre Os Bandidos do Deserto de maneira a que este livro fosse publicado no centenário do nascimento de Emilio Salgari, de quem o autor é fã confesso.
Assim é-nos apresentado pela ASA um livro a preto e branco de 165 pranchas com as aventuras do Marquês de Sartena e do seu fiel companheiro Rocco, oriundo da Córsega, no deserto do Sahara em busca do Coronel Flatters, desaparecido, sem se saber morto ou vivo, em Tombuctu.
Pelo caminho são descritos alguns costumes do povo que vive nas profundezas desérticas do norte de África, e é claro… não podia faltar a bela e corajosa dama, desta vez a bela judia irmã de Ben-Nártico, e para dar um ar negro não podia faltar o pérfido traidor El-Abiod!


Falando do livro propriamente, o argumento está bem simplificado como não podia deixar de ser. Se fosse feita uma adaptação compreensiva iria para mais de 1000 páginas, e é claro que o livro seria uma tarefa de gigante. Assim ficamos com um argumento resumido, mas bastante completo mesmo assim. Para quem não conheça a obra de Salgari é apenas mais um livro de aventuras em BD e não pensa que falta esta cena ou aquela. Em relação à simplicidade do argumento, só posso dizer que os livros de Salgari eram assim mesmo: aventuras simples!

Graficamente Santos Costa apresenta um Branco & Preto que não deslustra em nada o livro. Tem um bom domínio desta técnica, sem ser de encher o olho, mas este livro não fica mal a qualquer editora, seja portuguesa ou estrangeira. A narrativa gráfica segue bastante fluída durante o livro quase todo, com um soluço de vez em quando, mas no computo geral não está nada mal.

Relativamente à arte em si, Santos Costa mostra algumas páginas muito bem conseguidas, outras nem tanto. Mas como disse atrás, e fazendo a conta às 165 pranchas a qualidade média não está nada mal, e gostei bastante de algumas pranchas bastante dinâmicas.

O tratamento da figura humana deveria ser mais homogéneo durante o livro. Vê-se que Santos Costa tem um estilo próprio e honesto a desenhar, mas também vi em muitas páginas a figura humana bem melhor retratada do que em outras. Eu sei que um livro com esta quantidade de páginas tem tendência a originar isto, o artista nem sempre está com o mesmo estado de espírito, mas algumas vinhetas poderiam ter sido melhoradas facilmente.

No geral fiquei agradado, sobretudo com o preto e branco apresentado neste livro!
Não houve truques, ali só há desenho mesmo! Pode-se gostar mais, pode-se gostar menos mas chego ao fim agradado e a frase que me vem à cabeça é: “Isto é uma obra honesta”!
Uma obra portuguesa que foi para mim uma surpresa.



Softcover
Criado por Santos Costa
Editado 2012 pela ASA
Nota: 7,5 em 10
Boas leituras

20 comentários:

  1. Obrigado, Nuno, pela tua apreciação correcta e perspicaz.
    Notaste bem a diferença entre os desenhos, pois entre umas pranchas e outras mediaram nada mais nada menos do que 27 anos!
    A estória original, com menos vinhetas e menos páginas, foi publicada no M.A. em 1986 e desenhada no ano anterior. O que fiz agora foi reorganizar o trabalho sem menosprezar na totalidade aquilo que já tinha sido feito anteriormente. Tentei não fugir do traço, mas é difícil porque - ao contráriuo do que muitos possam pensar - um desenhador vai modificando o traço e libertando-se das "influências" com que principia.
    Depois, o próprio formato foi adaptado, uma vez que no MA as pranchas eram A3 com cerca de 8 vinhetas por página.

    ResponderEliminar
  2. Essas aventuras, contadas nos desertos ou em florestas africanas, me encantam os olhos. Que bom que temos esses artistas espetaculares e a mídia fixe que é a BD, para trazer um pouco disso na nossa vida. Vida longa aos Piratas do Deserto! Curti!

    ResponderEliminar
  3. El estilo me recuerda a un dibujante francés que era conocido en los 80s... no me acuerdo el nombre ahora.

    ResponderEliminar
  4. WOW!! 27 anos?! Bem, antes de mais os meus parabéns pela persistência de trabalho. 167 páginas de desenho é obra!

    Eu ainda não li o livro mas já o folheei com alguma atenção e várias coisas me agradaram. O que me agradou mais foi o tamanho da aventura. Sim, eu gosto de pegar numa Bd e sentir que vou passar uma tarde bem passada e não só 30 minutos. Só aí, tiro o chapéu ao Santos Costa. Outra coisa que gostei foi a capa não ser dura e a aventura ser a preto e branco. Factores que só contribuem para baixar este preço sem que a aventura perca qualidade. Também notei algumas discrepâncias a nivel de arte de umas páginas para outras, mas nada por aí além.

    Não posso dizer mais sem antes lêr o livro, mas mais uma vez ficam aqui os meus parabéns para o Santos Costa. Acho que falo por todos se disser 'Queremos mais!!' :D

    ResponderEliminar
  5. Santos Costa
    Não fazia ideia que tinhas ali páginas com 27 anos de diferença uma das outras!!! lol
    Parabéns pelo livro!
    ;)

    Venerável Victor
    É... HQ com esses cenários naturais e "radicais" possuem páginas maravilhosas quando os artistas dão o ênfase devido ao background das vinhetas. Por isso gosto muito da BD europeia. Nos comics on-going o cenário é menosprezado pelos autores porque não lhes dão o tempo necessário a que eles trabalhem os fundos (o que é uma pena...).

    Arion
    LOL
    Quando te lembrares coloca aqui!
    :D

    Luis Sanches
    Tás como eu! Gosto de livros grossos! É uma boa sensação ter de interromper a leitura para descansar um pouco, em vez de para porque o livro já acabou!
    :D
    Por isso tenho gostado do formato livro duplo com que a ASA nos tem brindado ultimamente!
    ;)

    ResponderEliminar
  6. Caríssimos Nuno, Venerável Victor, Arion e Luis Sanches
    Para complemento do que se disse - e com agradecimento pelo que se disse - vou acrescentar um pouco mais, tentando responder a cada um e a todos.
    Para começar, eu sou um fã do deserto. Não sei se resistiria na sua aridez e solidão mais do que um ou dois dias; por isso, maior admiração pelas aventuras nele ocorridas, mesmo ficcionadas.
    Desconheço que haja algum autor francês que tenha estilo idêntico; de qualquer forma, espero que seja indicado, para eu comparar.
    Concordo também com o Luis Sanches. Pode-se minimizar os preços dos livros, recorrendo ao preto e branco e a uma capa com sobriedade de gramagem e textura. Lembro que Hugo Pratt, por exemplo, sai melhor a p/b. O formato parece ser o ideal para o género em apreço, arredado do vulgar álbum franco-belga e do estirado formato italiano, pois ajuda a "arrumar" o livro na estante, junto a outras obras apenas com texto.
    Quanto aos 27 anos de traço, esses apenas dizem respeito a algumas vinhetas, as quais foram aproveitadas dessa edição do M.A., com 32 páginas (32 pranchas).
    Sobre esse trabalho, que encheu o penúltimo Mundo de Aventuras, posso dizer que não recebi um centavo dos direitos que então teria (cem escudos por prancha), porque quando fui para receber, deparei com uma manifestação de trabalhadores da editora APR, que falira. Poucos meses depois, num concurso de televisão onde imitei Morris em três vinhetas (Lucky Luke), arrecadei 400 contos.
    Finalmente, um agradecimento pela vossa participação e análise do livro e ao sempre atento Nuno, a contribuição para colocar na sua montra esta minha obra.

    ResponderEliminar
  7. Bem legal, não conheço muito dessa série, mas sempre achei muito legal!

    ResponderEliminar
  8. Santos Costa
    Obrigado pela tua achega (100 escudos???)!

    Esta montra está sempre aberta para quem tiver qualidade e para divulgar o que por aí sai ou acontece na BD!

    E eu tenho de te "obrigadar" por estares disponível para responderes aqui aos comentários dos leitores, poucos autores fazem isso.
    ;)

    Guy Santos
    Não é uma série, é um livro que saiu recentemente!
    :D

    ResponderEliminar
  9. Parabens pelo trabalho Babilônico.

    Será que surgirá aqui no Brasil? Vemos essas BD publicadas em Portugal e ficamos aqui a ver navios... e nada de deserto. :D

    ResponderEliminar
  10. Alex D'Ates
    A Leya Brasil tem um responsável por olhar para o catálogo da ASA. Portanto vocês só têm de mandar mail para ele, pedindo estes livros que a ASA vai publicando.
    Se não obtiverem resposta digam-me qual o livro que pretendem que eu encaminho o vosso pedido para a Leya Portugal tratar do assunto com a Leya brasileira.
    ;)

    ResponderEliminar
  11. Santos Costa

    O episódio que contas em que primeiro não recebeste pelo teu trabalho de 32 pranchas e depois num concurso de Tv, a imitares um outro autor (famoso) ganhas 400 contos, quase que dá para fazer uma pessoa sentar e chorar pelo o que se passa com a cultura deste país :S
    Deve ser preciso muito estômago para passar tantas horas a dedicar tempo à Bd e ver este tipo de coisas a acontecer :S

    Parabéns pela tenacidade.

    ResponderEliminar
  12. Ao Luis Sanches e Nuno Amado

    O programa onde imitei o Morris numa proporção de 1 cm para 50 cm,tinha por título "chegar,Apostar e Vencer" e era apresentado pela Conceição Lino (uma jóia de pessoa e de aprsentadora)e pelo Rui Mendes.
    Era um concurso onde, por exemplo, cocorreu o mágico (ainda não conhecido) Luis de Matos e era constituído por proezas dos concorrentes, que as apresentavam como apostas. Eu apostei que conseguia fazer, em poucos minutos uma página do Lucky Luke, pintada e tudo, 50 vezes maior que o original. Ia até preparado com uma página escolhida por mim, previamente treinada. No entanto, os espertos, na hora da gravação, trocaram-me as voltas e escolheram outra página de outro álbum. Mas eu fi-la na mesma, de tal sorte que as câmaras indiciram, ao mesmo tempo, nas imagens do álbum e nos desenhos que eu tinha imitado e... coincidiam.
    Olha, Sanches, foi a "lei das compensações", pois ficaram-me na APR não só os direitos desses desenhos referidos, como outros anteriores. Tenho a consciência tranquila: não contribui para a falência da "casa".
    Se o Jorge Magalhães, para além de coordenador, fosse o proprietário da editora, tenho a certeza que ainda hoje existia a APR. Por isso, mesmo que soubesse que não ia receber um centavo, faria os trabalhos na mesma.
    A BD compensou-me enquanto autor/editor com trabalhos para os municípios, pois era pago por prancha.
    Se os autores (como eu) pensarem apenas em viver da BD, o melhor é sentarem-se, nas horas vagas, nas arcadas do Terreiro do Paço ou nos túneis do Metro com uma concertina e uma caixa de sapatos ao lado; mas se viverem intensamente a arte, todos os momentos livres são poucos, pouquíssimos.

    ResponderEliminar
  13. Santos Costa
    Gosto!
    Gostava de ter visto esse programa! Se tiveres a gravação mete no Youtube e manda o link!
    :D

    ResponderEliminar
  14. Tenho a gravação em cassette VHS. Preciso de a transformar em DVD, serviço que se pode conseguir na FNAC, como já fiz a filmes que tinha dos anos 70 em películas "Super 8".
    É de fazer rir, a gravação na parte que me toca. Eu, para desenhar naquelas proporções (era uma prancha da altura da parede) estava empoleirado num supedâneo ou peanha de madeira, com o album aberto num outro suporte, mais ao lado, pelo que tinha de me inclinar para ver o original e depois desenhar a todo o "speed". Nas vinhetas mais ao fundo, já o pude fazer sem a peanha, mas com o álbum aberto numa das mãos.
    O prémio veio limpinho de impostos, pois a RTP suportava esses encargos pelo concorrente.
    "Agradeci" ao Morris comprando todos os álbuns que veja editados com o Lucky Luke; tenho, por isso, alguns em triplicado, pois coleccionei também todos os da ASA/Público, embora já tivesse todos os títulos, alguns então em duplicado.
    Daí, aceitar o desafio do Geraldes Lino para entrar na próxima Efeméride,com cerca de outros 120 autores, escolhendo (por causa desse concurso e por sugestão do Lino) o cow-boy solitário.

    ResponderEliminar
  15. Santos Costa
    Não sei se dei essa ideia com o meu comentário, mas não tive intenção de criticar a editora que não te pagou. Estava apenas a referir-me à nossa situação cultural e de entretenimento.
    Quanto a fazer Bd, falando por mim que estou a tentar fazer uma, eu faço-o porque gosto de Bd. Faço-o também porque gostaria de um dia ter um livro em casa para dar aos meus amigos que fui eu que fiz (dando eles valor a isso ou não, acho que é um pouco de nós que fica em cada desenho que fazemos). E sobretudo faço-o porque gostaria de poder contar histórias, levar os leitores a sítios que eu imagino (como eu gosto de ser levado também com uma boa Bd).
    Ainda não fiz nenhuma (aparte umas coisas quando era miudo), mas exemplos como o teu album que saiu agora dão-me cada vez mais vontade de concluir o que estou a tentar, mesmo que para isso passe os tais tempos livres no estirador. Depois de estar feita, aí logo se vê :)

    Abraço

    ResponderEliminar
  16. Santos Costa
    Passa isso para DVD e põe no Youtube!
    Assim o pessola pode ver-te a desenhar ao vivo!
    :)

    Luis Sanches
    Acho que quando criamos algo uma parte nossa fica lá. Por isso é a melhor prenda que podemos oferecer a quem gosta de nós!
    Para além disso, não desistas porque os teus desenhos não são nada maus! Força aí!
    ;)

    ResponderEliminar
  17. Luis Sanches
    Vi os teus esquiços na "Vinheta" e posso dizer-te, com sinceridade, que todos os momentos que possas dedicar a esta arte serão poucos, porque os aproveitas convenientemente.
    Gostei do desenho, que tem uma característica particular e prova que possuis, para além do gosto, a arte. Por isso, vou para além do conselho e faço-te um pedido: não desistas e continua, porque, quando menos se espera, será aberta uma oportunidade que tu aproveitarás e nós beneficiaremos.
    Um abraço para ti e outro para o Nuno, que nos abre esta porta de diálogo e de confidências.

    ResponderEliminar
  18. Nuno Amado e Santos Costa,

    Muito Obrigado no que toca aos comentários sobre os meus desenhos. Gostava de conseguir desenhar melhor, mas também já estou melhor do que já estive. Eu acho que quando toca a arte o importante é não parar. O desenrolar das nossas capacidades vai acontecendo (esperamos) normalmente.

    Quanto a não desistir, não vou desistir mesmo. Por muitas razões, mas sem duvida a mais importante é o prazer que me dá.

    Mais uma vez obrigado pelo vosso voto de confiança. Conta bastante. Ainda vai demorar algum tempo, mas espero que em menos de um ano possa ter algum trabalho pronto para partilhar com todos e saber se gostam. De qualquer forma, nisto como em quase tudo, é mais importante a viagem do que a chegada ao destino :)

    ResponderEliminar
  19. Luís Sanches
    Vai lá trabalhar então e vê lá se fazes um trabalhito até 8 páginas (original e nunca publicado) para eu meter aqui na rubrica "Lugar aos Novos"! Vá, vai lá!
    lol
    :D

    ResponderEliminar

Bongadas

Disqus Shortname

sigma-2

Comments system

[blogger][disqus][facebook]