segunda-feira, 22 de julho de 2013

Daytripper



Podemos morrer em qualquer momento da nossa vida. É um facto.
Não importa de quê, ou como, ou se poderia ser diferente!
Eu posso cair neste momento com a cabeça em cima do teclado e ficar apenas com estas linhas escritas.














Daytripper é um conjunto de histórias que termina sempre da mesma maneira. Com a morte de Brás de Oliva Domingos.
Tenho de confessar que quando li este livro meses atrás fiquei perplexo quando ele morreu a primeira vez… a minha exclamação foi um forte “WTF?”
Bom, ainda não tinha entrado mesmo no livro. Esta história de Brás Domingos é na realidade uma manta de retalhos de vida, imbuída de um profundo humanismo.


Penso que este foi o primeiro trabalho de grande fôlego dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá juntos. Originalmente publicado pela Vertigo em 2011, imediatamente granjeou várias e excelentes críticas a este seu livro de Banda Desenhada. A edição apresentada é a brasileira da Panini, que também saiu em 2011, e em que algumas sobras chegaram aqui aos quiosques portugueses.

Quero abrir aqui um parêntesis para falar disto. Destas sobras da Panini.
Acho uma falta de respeito enorme para com Portugal, e os leitores portugueses, este tipo de descarga de sobras. Todos os exemplares a que eu tive acesso estavam na mesma situação, selados com plástico. Dizem-me vocês: “- Mas isso é óptimo!”
Não, não foi. Os livros estavam selados à posteriori depois de andarem na guerra. O meu exemplar (o melhor dos quatro) está com vincos profundos nas primeiras páginas, a capa tem várias “bicadas” profundas, a lombada esmocada e o pior de tudo… tive de lavar o livro com um pano húmido!
Acho isto vergonhoso, ao menos podiam ter limpo os livros antes de os selarem para os totós dos portugueses os comprarem.
Para quando o término do monopólio da língua portuguesa por parte da Panini? Quando é que alguém dá um murro na mesa?

Passando ao que importa neste momento.
Brás vive, e morre, em diversas fases da sua vida. Desde a infância até à velhice.
A narrativa é fracturada, em segundas chances, possibilidades diferentes que agarrando-as ou não, influenciam toda uma vida.
Este é um livro sobre afectos também. Não só os afectos familiares como também o amor-próprio e a procura do nosso “eu”.


Brás passa por diversas fases diferentes, como se de um multiverso se tratasse. Mas existem âncoras. Brás é sempre escritor, seja de obituários para um jornal ou de autor de best-sellers de literatura. O pai de Brás é sempre um escritor famoso, outra das constantes.
A partir daqui Brás experimenta a vida, a maior parte das vezes com o seu amigo Jorge, e claro, sempre diferente.
Jorge é o homem que agarra a vida, e tudo aquilo que ela possa oferecer, com as duas mãos. Ele é a vida! Mas… há sempre um cenário possível onde isso pode correr mal.

As mulheres de Brás. Várias com comportamentos diferentes, consoante a realidade fracturada. Existe uma que se destaca, o grande amor da sua vida que apenas surge mais tarde! Aquela que o compreende, até na morte final.

Morte final… é um nome estranho para dar à morte, mas não arranjei melhor!
O último capítulo é lindo. Não podia haver melhor final para este livros de chances de vida. Afinal está ali tudo resumido… tudo o que importa na vida! Após as modificações radicais na vida de Brás, e dos ciclos que terminam sempre com a sua morte, o final é uma lição de vida e a vida é um suceder sucessivo de pequenos nadas imperceptíveis, mas que acabam por mudar fatalmente tudo os que nos rodeia.
É impossível não aparecer uma lágrima no canto do olho!

Grande trabalho destes dois irmãos, um grande exercício de escrita e de narrativa gráfica. A arte está em completa consonância com a história, mas o que gosto mais são as cores. Achei a paleta de cores o máximo, sempre diferente de capítulo para capítulo!

É claro que não vou penalizar o livro pela cópia degradada que comprei…
E pronto, aqui no Leituras de BD estamos a ter uma série de livros de nota máxima e posso garantir que vai continuar.

Boas leituras

TPB
Criado por: Gabriel Bá e Fábio Moon
Editado em 2011 pela Panini Brasil
Nota: 10 em 10

13 comentários:

  1. É um grande livro, sem dúvida.

    E Morte é a palavra certa mesmo. Morte metafisica. O fim de um capitulo na vida de Brás.

    O final é esplendoroso sim, mas o que mais me impressionou foi o capitulo sobre o pai de Brás.

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  2. É mesmo um grande livro. Metaforicamente apresenta diferentes fases da vida de qualquer homem e qualquer mulher com uma leveza e uma simplicidade sem nunca ser simplista. Bem pelo contrário, com uma profundidade que nso leva para o fundo dos oceanos da emoção. Adorei em todos capítulos, a narrativa, o desenho, e sim senhor a palete de cores é extarordinária. Pelos vistos tive sorte, conseguir, por acaso, arranjar um exemplar em muito bom estado. Um dos grandes livros que tive o prazer de ler este ano.

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  3. He escuchado muy buenos comentarios de Daytripper, creo que ya es hora de añadirlo a mi lista de tpbs que debo comprar.

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  4. Eu não o comprei a distribuidora não teve tempo até hoje de me indicar lugares de compra,depois queixem-se que não vendem.

    "Destas sobras da Panini.
    Acho uma falta de respeito enorme para com Portugal, e os leitores portugueses, este tipo de descarga de sobras. Todos os exemplares a que eu tive acesso estavam na mesma situação, selados com plástico. Dizem-me vocês: “- Mas isso é óptimo!”
    Não, não foi. Os livros estavam selados à posteriori depois de andarem na guerra. O meu exemplar (o melhor dos quatro) está com vincos profundos nas primeiras páginas, a capa tem várias “bicadas” profundas, a lombada esmocada e o pior de tudo… tive de lavar o livro com um pano húmido!
    Acho isto vergonhoso, ao menos podiam ter limpo os livros antes de os selarem para os totós dos portugueses os comprarem.
    Para quando o término do monopólio da língua portuguesa por parte da Panini? Quando é que alguém dá um murro na mesa?"

    Quando alargares o numero de leitores portugueses para um numero igual ou relevante para a Panini,tipo Brasil ou Alemanha ai talvez mudem de opiniao.
    Quanto ao estado das sobras deve-se a esposição e recolha nas bancas do Brasil ai elas ganham os vincos e dobras quando não levam com x.actos nas capas,se achas que no tpb esta mal imagina as revistas que tenho e vi.
    Alias essa esperiençia foi mais uma que falhou depois de Watchmen nas Fnacs va la esse esta novo,

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  5. Grande livro este. É mais um dos que reli logo que o acabei.
    A primeira morte também me deixou boquiaberto.

    Quanto ao estado do livro, adquiri o meu na Casa da BD, no Mercado de Santa Clara, em estado irrepreensível. Disseram-me que fazem importação directa da editora(?!)


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  6. Boas,

    está na minha lista de compras. Tenho muito interesse neste livro pelo que tinha lido, embora para ser sincero, tenha sempre conseguido evitar perceber do que tratava a história, até este post que ainda me deu mais vontade de comprar o livro.

    Saúdo a tua recente incursão em obras mais alternativas :-). Eu noto porque passam meses em que não falas de alguma coisa que eu tenha comprado ou lido, ou sequer me interesse por aí além, e nas últimas semanas foi este Daytripper e o Rugas (e o Três Sombras lá mais para trás).

    abraço

    Luis

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  7. Rui Esteves
    É mesmo um grande livro. Bem construido sendo que o cimento que une todos os capítulos é a emoção e o humanismo! Estes dois brasileiros são grandes!
    Para mim o final é enorme!
    ;)

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  8. Letré
    Acho que focas um excelente pormenor: a simplicidade!
    Mas é uma simplicidade profunda, dentro da complexidade das relações que vamos tendo durante toda a vida!
    :)

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  9. Arion
    Compra e vais ficar feliz por teres um livro destes nas tuas prateleiras!
    ;)

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  10. Optimus
    É difícil de encontrar mesmo. Eu tentei comprar uma cópia noutro sítio porque a minha está num estado lastimável. Foram sobras distribuídas aleatoriamente e sem nexo.
    O haver um mercado absoluto português menor que o brasileiro não lhes dá o direito de fazer estas porcarias. Um livro posto à venda como novo, deve estar na situação de novo e não em pior estado que livros em 3ª mão.
    Isso é falta de respeito, e o respeito é uma coisa muito bonita.
    :\

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  11. Luis
    Mas eu já fiz bastantes posts sobre obras mais alternativas. Não foram só essas que enumeras.
    O que acontece é que para eu comprar algo mais alternativo tem de ser bom mesmo. De outra maneira não perco tempo nem dinheiro!
    Claro que críticas a livros mais alternativos são em menor número, visto que também os tenho em menor número, e como já disse muitas vezes só faço crítica a livros que possuo.
    E aconselho-te vivamente este Daytripper! É excelente.
    ;)

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  12. Pedro Gomes
    Por acaso nunca me lembrei da Casa da BD do Wagner para este tipo de livro. Mas se ele tem é de aproveitar!
    A primeira morte deixou-me de boca aberta porque não estava à espera!
    LOL
    Este reli para fazer o post... tenho um monte de livros para ler pela primeira vez!
    :D

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  13. Fabiano
    Chegou aqui apenas sobras, e aquelas a que eu tive acesso estavam em mau estado.
    A ver se arranjo uma cópia em condições senão compro em inglês e pronto...
    É natural que no Brasil haja Panini em condições... nós aqui levamos com aquilo que sobrou daí, daí por vezes o estado não ser o melhor.
    :)
    Acho que o segredo para uma crítica é falar da história, mas sem contá-la, ou seja, sem estragar a leitura de quem leu a crítica antes de ler o livro. Por vezes é difícil...
    :D
    Superpig vai haver mais em Outubro, Capas WTF vai sempre havendo, Rugas é um livro único portanto não haverá mais. Quanto a Murena, agora vai demorar, as edições portuguesas "apanharam" as originais em francês, portanto temos de esperar que saia um novo livro em França (e que seja publicado em português...)
    :)

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