quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Daytripper
Colecção Novela Gráfica Vol.10



Podemos morrer em qualquer momento da nossa vida. É um facto.
Não importa de quê, ou como, ou se poderia ser diferente!
Eu posso cair neste momento com a cabeça em cima do teclado e ficar apenas com estas linhas escritas.

A Levoir publicou hoje em edição de capa dura e bom papel, na sua colecção "Novela Gráfica", um dos livros da minha vida: Daytripper!
Saiu para as bancas e quiosques por menos de 10€, e eu acho inaceitável qualquer pessoa que goste de BD não o adquirir. :D
Claro que estou a brincar. As pessoas não são obrigadas a gostar deste excelente livro ;)

Daytripper é um conjunto de histórias que termina sempre da mesma maneira. Com a morte de Brás de Oliva Domingos.
Tenho de confessar que quando li este livro tempos atrás fiquei perplexo quando ele morreu a primeira vez… a minha exclamação foi um forte “WTF?”
Bom, ainda não tinha entrado mesmo no livro. Esta história de Brás Domingos é na realidade uma manta de retalhos de vida, imbuída de um profundo humanismo.

Penso que este foi o primeiro trabalho de grande fôlego dos gémeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá juntos. Originalmente publicado pela Vertigo em 2011, imediatamente granjeou várias e excelentes críticas a este seu livro de Banda Desenhada. A Panini também publicou esta obra em 2011, e em que algumas sobras em mau estado chegaram aqui aos quiosques portugueses, daí eu ter ficado extremamente feliz com a publicação de luxo deste livro pela Levoir.

Quero abrir aqui um parêntesis para falar da tradução.
Em primeiro lugar nem sequer coloco em causa a qualidade da tradução, não é esse o meu foco sobre este assunto. O Pedro Cleto deverá ter feito um bom trabalho com certeza, não estive a comparar um livro com o outro página a página para ver se estava bem.
Mas... porquê traduzir um livro em português? Sim, o livro da edição brasileira está em português ou não? Vamos traduzir de português para português? Vamos traduzir os livros do autores regionais portugueses (Alentejo, Açores, Beira Interior... por exemplo) porque têm sotaque? Vamos perder a riqueza da diversidade do português porque carga d'água? Eu sou um indefectível detractor do "Acordo Ortográfico", sou a favor da riqueza do português e isto que fizeram não tem nexo nenhum na minha humilde opinião. Eu estava para dar a minha cópia miserável da Panini, mas já não a vou dar! Vou ficar com os dois.

Passando ao que importa neste momento.
Brás vive, e morre, em diversas fases da sua vida. Desde a infância até à velhice.
A narrativa é fracturada, em segundas chances, possibilidades diferentes que agarrando-as ou não, influenciam toda uma vida.
Este é um livro sobre afectos também. Não só os afectos familiares como também o amor-próprio e a procura do nosso “eu”.

Brás passa por diversas fases diferentes, como se de um multiverso se tratasse. Mas existem âncoras. Brás é sempre escritor, seja de obituários para um jornal ou de autor de best-sellers de literatura. O pai de Brás é sempre um escritor famoso, outra das constantes.
A partir daqui Brás experimenta a vida, a maior parte das vezes com o seu amigo Jorge, e claro, sempre diferente.
Jorge é o homem que agarra a vida, e tudo aquilo que ela possa oferecer, com as duas mãos. Ele é a vida! Mas… há sempre um cenário possível onde isso pode correr mal.

As mulheres de Brás. Várias com comportamentos diferentes, consoante a realidade fracturada. Existe uma que se destaca, o grande amor da sua vida que apenas surge mais tarde! Aquela que o compreende, até na morte final.

Morte final… é um nome estranho para dar à morte, mas não arranjei melhor!
O último capítulo é lindo. Não podia haver melhor final para este livros de chances de vida. Afinal está ali tudo resumido… tudo o que importa na vida! Após as modificações radicais na vida de Brás, e dos ciclos que terminam sempre com a sua morte, o final é uma lição de vida e a vida é um suceder sucessivo de pequenos nadas imperceptíveis, mas que acabam por mudar fatalmente tudo os que nos rodeia.
É impossível não aparecer uma lágrima no canto do olho!

Grande trabalho destes dois irmãos, um grande exercício de escrita e de narrativa gráfica. A arte está em completa consonância com a história, e adorei as cores. Achei a paleta de cores o máximo, sempre diferente de capítulo para capítulo!

É claro que não vou penalizar o livro por ter sido traduzido...
Como disse no início, é um dos livros da minha vida, profundo e muito bem estruturado, parabéns à Levoir por o ter publicado, mas não por o ter "traduzido".





Boas leituras


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